Quanto à metodologia sequencial, e não
só, podemos dizer o filme em termos de manta de retalhos:
A manta de trapos é um parente pobre
das tecelagens: feita de restos de tecelagens-outras, que tiveram uma
utilização própria quando pertencentes à unidade. Estes
sobejos-trapos, juntos, recriam-se numa outra unidade de elementos
reciclados. Por vezes, na urgência de harmonias, de quem as faz,
querer-se-ia veludo de algodão ou popeline e apenas se tem riscas ou
lisos de Tyrelene. (Em vez de sobejo-trapo leia-se: tantos segundos
de celulóide).
Os vários tons de linha entrelaçados
formam um fio grosso-condutor-unificador de toda a urdidura.
(Em vez de linha (de urdidura), leia-se
música; som; escrito; ritmo...).
Neste filme = manta de retalhos,
sente-se num gesto último, ao percorrer os olhos pelo trabalho
acabado, ligações estruturais, por vezes, demasiado abruptas, com
rugosidades e asperezas selvagens na urgência de junção de
texturas excessivamente diferenciadas, em contraposição com levezas
de sequências de asa de pássaro em transparência de céus.
Voz-off é a tonalidade intimista que
percorre toda a tecelagem e lhe dá a consistência de uma
sensorialidade subterrâneo de pinhal voado por neblinas cerradas.
Não narra nada; apenas agarra, adensa os materiais e dá espessura à
manta-filme-tapeçaria, através de ondulações de mares de
arvoredos, criando as sequências rítmicas propostas. Esta ondulação
sente-se através do olhar deslizado da manta-filme-tapeçaria,
projectado à nossa frente no silêncio branco do écran durante 2h e 15m.
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