quinta-feira, 4 de abril de 2013

COMO FOI FEITO



Quanto à metodologia sequencial, e não só, podemos dizer o filme em termos de manta de retalhos:

A manta de trapos é um parente pobre das tecelagens: feita de restos de tecelagens-outras, que tiveram uma utilização própria quando pertencentes à unidade. Estes sobejos-trapos, juntos, recriam-se numa outra unidade de elementos reciclados. Por vezes, na urgência de harmonias, de quem as faz, querer-se-ia veludo de algodão ou popeline e apenas se tem riscas ou lisos de Tyrelene. (Em vez de sobejo-trapo leia-se: tantos segundos de celulóide).

Os vários tons de linha entrelaçados formam um fio grosso-condutor-unificador de toda a urdidura.
(Em vez de linha (de urdidura), leia-se música; som; escrito; ritmo...).

Neste filme = manta de retalhos, sente-se num gesto último, ao percorrer os olhos pelo trabalho acabado, ligações estruturais, por vezes, demasiado abruptas, com rugosidades e asperezas selvagens na urgência de junção de texturas excessivamente diferenciadas, em contraposição com levezas de sequências de asa de pássaro em transparência de céus.

Voz-off é a tonalidade intimista que percorre toda a tecelagem e lhe dá a consistência de uma sensorialidade subterrâneo de pinhal voado por neblinas cerradas. Não narra nada; apenas agarra, adensa os materiais e dá espessura à manta-filme-tapeçaria, através de ondulações de mares de arvoredos, criando as sequências rítmicas propostas. Esta ondulação sente-se através do olhar deslizado da manta-filme-tapeçaria, projectado à nossa frente no silêncio branco do écran durante 2h e 15m.

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