quinta-feira, 18 de abril de 2013

Artigo #2


RUI SIMÕES


RUI SIMÕES

Rui Simões torna-se dissidente em 1966 do sistema vigente. Na Bélgica adquire o curso de realizador de cinema. Regressa a Portugal em 1974 e encontra a maravilhosa loucura colectiva do país – um povo que atrai a si todos os dissidentes. É a história da família dispersa, por: África, Brasil, Eurpoa(s) e que se reencontra finalmente.
Com o capital acumulado: conhecimentos adquiridos no estrangeiro, dedica-se ao tema que é todo o turbilhão nas ruas de Portugal no momento da sua chegada. E dá-se também conta de desejo de muitos, Portugueses ao querer reter para sempre as miríades de acontecimentos despolotados no 25 de Abril.
  1. “Deus, Pátria, Autoridade”. - Longa Metragem, 16mm, 1975.
  2. Insere-se, integra-se, em toda a movimentação de momento, numa procura de “Deus, Pátria, Autoridade”.
  3. É o primeiro discurso e a sua primeira imagem do país. Isto, foi possível, apenas, até ao ponto possível de encontro com os outros.
  4. “Deus, Pátria, Autoridade”, é agora, já depois de realizado uma consequência à posteriori de uma atitude experimental.
  5. Nesse primeiro filme, tenta codificar o discurso que já era dominantemente marxista, por ser o oposto ao discurso do século XIX-urbano em que vivera.
  6. Esta primeira experiência em Portugal é feita com a intenção de tornar este filme uma ferramenta na defesa e participação das pessoas no novo poder que se vislumbra. É feito com um fim pedagógico para que quem o vê saiba descodificar o real que agora o cerca: a dominante era a luta de classes em Portugal, nesse momento.
  7. “S. Pedro da Cova” - série de 3 curtas metragens, 16 mm 1976
  8. Na trilogia “S. Pedro da Cova” que se seguiu, o cineasta inseriu-se totalmente a nível da micro realidade vivida. Neste caso: Programa de Alfabetização e Educação Permamente – ponto alto de uma experiência sentida intensamente numa aldeia nortenha.

É neste contexto que os filmes “O Museu”, “O Que a Mina Deixou”, “Para Além da Mina”, se atravessam.
Com o pretexto deste filme que na sua concepção e filmagens se tornou vivência intensa por parte da equipa, fez-se animação, desenharam-se papéis didácticos, ensinou-se a população a pedir subsídios, apoiaram-se grupos de teatro, promoveu-se a formação de um grupo de alfabetização, ensinou-se a tirar fotografias (de família) a quem nunca tinha mexido numa máquina.
Neste trabalho o autor coloca-se de um modo diferente que no anterior. Agora beneficia das vantagens do sucesso com o trabalho anterior. Isto permite-lhe ter uma experiência em que o trabalho a realizar é codificados em linguagem cinematográfica por uma população que recebe esse “privilégio”.
Esta experiência foi um ponto alto no processo profissional do autor. No anterior trabalho havia a preocupação de deixar a eles (personagens) a expressão.
Aqui há a intenção de que eles tomem a sua própria expressão.
Continuando no caminho do experimental esta experiência permitiu ir mais longe e alterar o enfoque usado e a própria linguagem utilizada anteriormente.

  1. “Bom Povo Português” - 1 longa metragem 16mm 1980
  2. “Bom Povo Português” é a única análise global do que em Portugal se passou de 25 de Abril a Novembro de 2975.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Exibições Bom Povo Português


A ACRESCENTAR A ESTA LISTA SEGUEM AINDA:

Fórum Fnac Alfragide: 23 de Abril às 16h00;
Fórum Fnac Almada: 24 de Abril às 21h30.

terça-feira, 9 de abril de 2013

A COOPERATIVA




Virver – Cooperativa de Cinema, é a tentativa de criação colectiva de um espaço, com nova forma de trabalho e vida.
Depois do 25 de Abril passou-se a uma prática colectiva de pequenas células funcionando autonomamente com personalidade colectiva própria.

Se cada um se libertar do seu papel social e viver os múltiplos personagens que tem, cada vez é: mais livre, mais perto de si – sem barreiras para o s outros.
Isto: projecta-se no trabalho que se faz.

A relatividade de tudo isto somos nós.

Hoje a cooperativa sofre a contradição da (macro) sociedade que naturalmente se lhe opõe, através de códigos:
económicos
sociais
políticos

Agora: outros

(Disto resulta um esforço de sobrevivência, hoje-violento para quem o continua).

Para o realizador a equipa que o apoiou é em parte integrante da autoria do filme. Sem entender isto, é impossível compreender o filme, que só aparece para:
ficar o movimento

PARA: dar movimento,
num sistema sincrónico/diacrónico tal como foi sentido pela equipa que, ao longo do processo foi ao mesmo tempo espectador e actor participante no processo revolucionário em curso.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

COMO FOI FEITO



Quanto à metodologia sequencial, e não só, podemos dizer o filme em termos de manta de retalhos:

A manta de trapos é um parente pobre das tecelagens: feita de restos de tecelagens-outras, que tiveram uma utilização própria quando pertencentes à unidade. Estes sobejos-trapos, juntos, recriam-se numa outra unidade de elementos reciclados. Por vezes, na urgência de harmonias, de quem as faz, querer-se-ia veludo de algodão ou popeline e apenas se tem riscas ou lisos de Tyrelene. (Em vez de sobejo-trapo leia-se: tantos segundos de celulóide).

Os vários tons de linha entrelaçados formam um fio grosso-condutor-unificador de toda a urdidura.
(Em vez de linha (de urdidura), leia-se música; som; escrito; ritmo...).

Neste filme = manta de retalhos, sente-se num gesto último, ao percorrer os olhos pelo trabalho acabado, ligações estruturais, por vezes, demasiado abruptas, com rugosidades e asperezas selvagens na urgência de junção de texturas excessivamente diferenciadas, em contraposição com levezas de sequências de asa de pássaro em transparência de céus.

Voz-off é a tonalidade intimista que percorre toda a tecelagem e lhe dá a consistência de uma sensorialidade subterrâneo de pinhal voado por neblinas cerradas. Não narra nada; apenas agarra, adensa os materiais e dá espessura à manta-filme-tapeçaria, através de ondulações de mares de arvoredos, criando as sequências rítmicas propostas. Esta ondulação sente-se através do olhar deslizado da manta-filme-tapeçaria, projectado à nossa frente no silêncio branco do écran durante 2h e 15m.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

As palavras de Bom Povo Português


“Bom Povo Português” é um ensaio no domínio do experimental, um desenrolar de acontecimentos fora de análise de quadros referenciais cartesianos. Não pretende explicar nada. É apenas um olhar intimista sobre: o nascer – crescer – morrer de uma ideia que decorre entre 25 de Abril e 25 de Novembro.

“Bom Povo Português” tem de ser lido sem preocupação de observação-identificação de personagens e conjunturas políticas em clarezas discursivas; é para ser lido em emoção audio-visual.

Exige do espectador disponibilidade para estar: totalmente, tal como para ler esta sequência de palavras:
PLATÃO. EUROPA. PARTO. CAVERNA.
SOL INFIXO. CRAVOS.
“BOM POVO ALENTEJANO”. CEGO.
PODE-SER-QUE-ISTO-MUDE.
DEMOCRATIZAÇÃO. CAPITÃES.
O-QUE-É-VIVER-BEM. MITOS. CRENÇAS.
PAPEL SOLTO NO AR. IDOLOS.
MANIFESTAÇÕES. BANDEIRAS.
PALAVRAS-DE-ORDEM. AUTO-COLANTES.
PINHEIRAIS. MANHÃS INCOMPLETAS.
PIDES. RITUAL. SOL FIXO.
A-VAGA-CRESCE. ELEIÇÕES. PARTIDOS.
POVO-UNIDO. CEGO. IMPÉRIO-COLONIAL.
CAVERNA. 7 DE SETEMBRO.
MULTINACIONAIS.
CONQUISTA-DOS-TRABALHADORES.
MAIORIA SILENCIOSA. GESTOS PAUTADOS.
MAR. 28 DE SETEMBRO.
MANCHA DE NÚVEM NO CHÃO. POLITIZAÇÃO.
PRESSÕES INTERNACIONAIS.
PLANÍCIES DE AÇO SEM TEJO.
MANHÃ DE 11 DE MARÇO.
INDEFINIÇÃO DE PODER(ES).
AFASTADOS CAPITÃES. CAVERNA.
MANHÃ DE SOL NO CHÃO.
NEM MAIS-UM-SOLDADO. REUNIÕES.
A-VAGA-CRESCE. OCUPAÇÕES. COPCON.
SALÁRIO-MÍNIMO-NACIONAL.
SABOR-A-PROGRESSO. EMIGRANTE.
SOL DESCIDO NA MANHÃ. RENASCENÇA.
CAVERNA. INDEPENDÊNCIA COLONIAL.
CAIXOTES. RETORNADO. FORÇAS ARMADAS.
A-VAGA-CRESCE. POLÍTICOS.
BOM POVO PORTUGUÊS.
O-QUE-É-PRECISO-É-TRABALHAR. CEGO.